domingo, 26 de outubro de 2014

CARTA ABERTA DE REPÚDIO AO AUXÍLIO –MORADIA DOS MAGISTRADOS


São Paulo, outubro, 2014.

A partir do mês de outubro, juízes e desembargadores de todo país passam a receber a mais, um valor de R$ 4.377,73 de Auxílio-Moradia, conforme decisão das altas cortes jurídicas, o STF (Supremo Tribunal Federal) e depois do CNJ (Conselho Nacional de Justiça). São mais de seis salários-mínimos por mês, como adicional. A população trabalhadora do Brasil e, especificamente, de São Paulo não pode assistir passivamente ao desrespeito a que está sendo submetida.

Esta carta é uma manifestação de repúdio a esse Auxílio-Moradia aos magistrados, pois queremos um país no qual não haja privilégios na sociedade e na vida pública.

Enquanto magistrados recebem esse Auxílio, que significa um verdadeiro aumento de salário no caso chamado de subsídio, é dos juízes e desembargadores que emanam as ordens de desocupação, de despejo, de reintegração, que causam tragédias como o  Pinheirinho (SJC) e mais recentemente, a desocupação de um prédio no centro de São Paulo.

Os que cassam o direito a um bem essencial à vida humana, como é a habitação, passam a receber um privilégio para dispor de sua própria moradia. Mais que uma contradição, é uma injustiça!

É revoltante assistir pessoas cultas e respeitáveis da magistratura, participarem da situação vexatória de receber mais um privilégio, de forma tão insidiosa. Juízes e desembargadores compõem uma parcela de beneficiados pelo Estado, que já dispõe de polpudos salários, e que não precisa bater cartão nem cumprir horário, tendo direito a duas férias por ano. Agora, implementa outro benefício para sua classe.

O Brasil viveu um período eleitoral, no qual circularam discursos de que o “estado gasta muito” e que seria até desejável, para os grandes empresários, haver um “Estado Minimo”. Porém, a população não sabe exatamente onde é que o Estado gasta e porque falta dinheiro para necessidades fundamentais, tais como saúde, educação, moradia. Para o conjunto do povo trabalhador e pobre sempre falta dinheiro, enquanto que, para os funcionários do judiciário de São Paulo o TJ deve reposição de perdas salariais desde 2002, deixa de cumprir compromissos e direitos acordados, inclusive aprovados por Leis.

Por outro lado, para agradar poderosos não existe “estado mínimo” nem “estado esbanjador”. Pouco importam as filas imensas nos tribunais, a falta de funcionários e a demora de andamento de um processo. Pouco importa a falta de recursos para a área social, pouco importa a saúde na UTI, e a degradação da educação. Pouco importam a falta de moradia, a falta de perspectivas e de dignidade para a maior parcela dos brasileiros.

O fato da magistratura trabalhar muito não é uma exclusividade dela. Quanto às condições de trabalho, são invejáveis se comparadas com a média. Note-se que é pequena, quase nula, a manifestação contrária dos beneficiados frente a mais esse privilégio. Pouco se ouve uma voz em contrário, nem mesmo em nome da ética.

Não bastasse essa questão de um novo privilégio, é lamentável que a magistratura não deixe de dar mostras de estar firmemente engajada no projeto de criminalização dos movimentos sociais, sindicais e políticos, o que vem gerando atos de violência com prisões e demissões arbitrárias de manifestantes e grevistas, retirando direitos dos trabalhadores. É revoltante!

Esta carta manifesta o repúdio ao Auxílio-Moradia da magistratura, novo privilégio para uma classe que já goza de muitos benefícios comparada a outras classes profissionais. 

Repudiamos a criminalização dos movimentos sociais. Basta a desfaçatez em manter as desigualdades de nosso país, principalmente quando em nome da Justiça.

Basta!!!


COLETIVO COMANDO DA BASE  
SINDJESP-CAIEIRAS E SÃO PAULO  
SINDJESP-RMSP

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